Diários de Lisboa

Um comentario por dia, dá direito a uma lobotomia...

quarta-feira, outubro 06, 2004

Lisboa com amigos e muito gelo


Aprendi a gostar de Lisboa à distância. Nestes quase três anos (já passou assim tanto tempo?!) a viver no Fundão, as idas à capital assumem uma importância quase terapêutica: lá reside quase tudo o que me vai na memória. Essa impressão digital que Lisboa deixou na minha cabeça - apercebo-me agora – é um mapa de sensações. E eu, que só lá vou para olhar, descubro a limpidez de tudo. Não é um exercício demasiado racional, nem é excessivamente poético. É, acima de tudo, pessoal. Conhecer a geografia de uma cidade como Lisboa de olhos fechados implica que foi nela que crescemos e que lá continuam penduradas entre os prédios as várias peles que despimos. Até mesmo a vontade de lhe virar costas e regressar furtivamente como um amante burlesco tem qualquer coisa de passional, de deliciosamente indefinido.
alargo os braços de uma margem à outra numa ponte em hora de ponta com o pôr-do-sol infectado pelas cores dos escapes em fumo. este é o meu postal urbano sem palmeiras no horizonte
As pessoas. As pessoas que emergem das ruas e das portas dos bares à noite, principalmente se forem amigos. Diluímos a conversa no gelo dos whiskies, refrescamos os sorrisos, soletramos os nomes uns dos outros. Lisboa é o ponto nevrálgico da minha empatia e o que fica das noitadas, da música, dos cigarros, dos copos é a alquimia do afecto. No dia seguinte estala-me a cabeça com a ressaca da distância.
Bruno